quinta-feira, 17 de julho de 2008

Sobre pré-adolescência, Sócrates e sei lá mais o quê


Uma das coisas mais chatas de se fazer nas férias (não sei quanto a vocês, mas que eu sempre tenho que fazer nas férias) é arrumar o meu armário... Tanto eu quanto minha mãe percebemos há um bom tempo que sou uma bela duma lixeira, que sai catando papeizinhos por aí na esperança de que eles sejam úteis um dia. Para piorar me apego a vários desses papeizinhos, que vão escapando de várias arrumações e se tornando pilhas desengonçadas no armário. Pois no meu primeiro dia de férias, que já foi há uma semana atrás, resolvi cumprir a árdua tarefa. Não porque estivesse bem disposta nem nada, e sim porque a tal pilha desengonçada desabou quando abri a porta. A parte mais difícil é jogar fora uma apostila ou um caderno antigo... São tantas boas e más poesias, desenhos, recadinhos de amigos que não mais verei... Sem dramatizar (muito), é como se estivesse jogando fora um pedaço do meu passado, das minhas memórias, de quem eu fui.

Foi daí que criei então uma pasta chamada “Recordações de quem eu fui!”. Não que isso seja uma coisa super legal. Às vezes dói ver quem a gente foi. Dói especialmente ver as coisas que eu guardei da minha época de pré-adolescência e da própria. É a pior fase que um sujeito pode passar na vida. Você acredita piamente que não é mais uma criança, e fica tentando ser jovem/adulto, coisa que não é! Complicado. Tenho pena da maioria dos pré e adolescentes quando passo por eles na rua. Muita. Pena daqueles que passam em bando rindo escandalosamente como se estivessem vivendo seus dias de glória e quisessem se certificar que todos estão escutando. Pena daqueles que estragam o filme dos outros no cinema fazendo estardalhaços pelos motivos mais bestas do mundo, só para fazer e acontecer lá também. Pena daquelas “pequenas” meninas se vestindo, maquiando e agindo como mulheres, sendo tratadas e cobiçadas como tal, achando também (e sempre) que estão arrasando. Tudo bem que quando é a minha sessão de cinema que está sendo sacaneada sinto ódio mortal ao invés de pena. Mas quando vejo esses pobres coitados lembro da minha própria fase escrota da vida (que tive que fazer um esforço imenso pra superar, sem nunca ter a certeza de ter superado!). Lembro de tudo que na época me pareceu o máximo, e que agora me dá vontade de botar fogo em todos os meus diários da quinta à oitava série.

Mas eu não coloco fogo não (na verdade acho que só fiz isso uma vez). Tenho consciência de que daqui a alguns anos minha vontade será a de queimar quase tudo que escrevo hoje... É assim que acontece. A gente amadurece a cada ano, a cada mês. E se eu sempre destruir as coisas escrotas que fui/escrevi/fiz no passado no final não restará nada das “Recordações de quem eu fui” para mostrar aos meus filhos. “Olha como a mamãe era uma completa idiota! Quer dizer... Uma bobinha!”, ou então até mesmo: “Caramba, olha como eu evoluí... Que merda essas matérias que eu escrevia”. Estava conversando sobre isso com Darshany-garota-do-casaco-verde esses dias. Ela de vez em quando tem postado no seu blog uns textos antigos (ou nem tão antigos assim) que escreveu e que hoje a fazem rir à beça. Alguns são adoráveis! É como se eu visse a Darshany adolescente que não conheci.

A vida passa muito rápido, agora, e acaba do nada, do nada mesmo. Acho que foi quando compreendi isso que me desapeguei de um monte de tralha verdadeiramente inútil que guardava no armário e guardei só o que valia a pena.

Vou aproveitar para compartilhar um texto do Frei Beto que li esses dias - e que me faz pensar até hoje. Tem a ver com o que estava falando agora, sobre guardar só o que vale a pena e se desapegar de tantas, tantas tralhas que o mundo nos oferece. O texto dirá:


“Vou com freqüência a livrarias de shoppings. Ao passar diante das lojas e contemplar os veneráveis objetos de consumo, vendedores se acercam indagando se necessito algo. "Não, obrigado. Estou apenas fazendo um passeio socrático", respondo. Olham-me intrigados. Então explico: Sócrates era um filósofo grego que viveu séculos antes de Cristo. Também gostava de passear pelas ruas comerciais de Atenas. E, assediado por vendedores como vocês, respondia: ‘Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz’.”

Boa, Sócrates! Preciso me lembrar disso mais vezes.

14 comentários:

Talita S. disse...

Eu também costumo guardar todas as tralhas que encontro,achando que um dia poderão ser úteis,de alguma forma.

Tenho que fazer a faxina no meu armário essa semana.Aiai.

Gostei daqui :)

Beijo!

Darshany L. disse...

ahhhh
somos iguais. só que ainda tenho minha escrivaninha e duas gavetas sob a cama a mais cheias de coisas que eu simplesmente tenho PENA de jogar fora.
mas algo que eu sei que nunca vou jogar fora são as cartinhas e recadinhos de amigos.
acho que guardo desde a 4ª série! de amigas que eu nunca mais vi.....
triste né...

e meus textos toscos são adoráveis agora?
uhahauhuahua
óun, você que é adorável.
muito lindo o que você escreveu ali do ladinho abaixo do selo *-*

ps.: sócrates está certo, mas não posso concordar muito com o frei. impossível passar pela livraria e achar que nada daquilo ali é essencial para mim. livros, cara. LIVROS.
*-*

pps.: terminei o hobbit em quadrinhos, guardei numa gaveta para não pegar poeira e essas coisas até eu te entregar ^^

te amo ;*

Darshany L. disse...

caraca, meu comentário é o maior do mundo

Lábia na -7 disse...

E é por isso que eu abandonei toda a papelada e agora só me importo com o meu e-mail. Papel é pra ser queimado, só o virtual fica pra sempre.

E nem me incomodo mais com a gurizada no cinema, fui assistir a despedida do HL e fiquei imprenssado entre um cara roncando e um casal impressionado com a aparição do "charada"(duas caras)!!
Malditos adultos....

Unknown disse...

Cara, ri muito com "eu sou uma bela dum lixeira". E, se serve pra alguma coisa, eu tenho coisas muito mais absurdas do que papel que eu tenho pena de jogar fora. Tem um fio de borracha que eu não faço idéia do que seja, que ficou tanto tempo jogado no meu armário que eu eu não consigo jogar fora, tem pedaço de galho que eu não lembro de onde veio, mas que fica lá guardado, dúzias de bonecos velhos de kinder ovo que eu tenho pena de jogar no lixo, roupas de quando eu tinha dez anos de idade. Eu tinha um par de camisas absurdamente velhas que de tão rasgadas e abatidas a minha mãe e a empregada iam jogar fora assim que eu usasse de novo, aí eu escondi as duas em algum lugar, e não me lembro mais onde estão.
Daí eu te acompanho: se tem um coisa que eu odeio, é arrumar meu armário. Enrolo minha mãe o máximo possível, até ela me ameaçar.
O que eu não tenho é diário, nem agenda, nem coisa do gênero. O máximo que eu tenho são desenhos velhos, mas dão quase o mesmo efeito.
=D

E esse fim de semana eu fui no shopping e fiquei com a cabeça repetindo "passeio... socráti.. co... cráti... co..."

Unknown disse...

Ah é, a técnica de extorsão e ameaça foi sua amiga darshany que me ensinou. Funciona que é uma beleza.

Anônimo disse...

Ow adorei o blog, muito bom...
Concordo muito com o texto, quem não tem alguma coisa antiga que dificilmente consegue se livrar e tem de guardar para a "posteridade"

Eu mesmo tenho tanta coisa la que evito arrumar, só ajeito da maneira mais fácil para que não desabem sobre algum individuo que abra as portas!

Ah sim... sei que essa frase vai me perceguir quando for ao shopping!
- "Não, obrigado. Estou apenas fazendo um passeio socrático."

Abraços.

Darshany L. disse...

que técnica de extorsão e ameaça eu ensinei????????????????????????

Marcela disse...

Aahh que post óótimo!!!
De verdade.. é sempre assim, mas sinto que depois de um tempo a gente tem é vontade de 'restaurar' as coisas que fomos. Algumas boas idéias, ou algo que nos faça rir.

E Sócrates era meeesmo o máximo.!

Beeeijos
;***

Darshany L. disse...

let
mais um selo pra você
AHAHAHAHHAAHH(6)

aqui:
http://garotadocasacoverde.blogspot.com/2008/07/um-muito-obrigada-3.html


saudadesssss
tenho que te ligar!

bia de barros disse...

ai, que lindo o pensamento no final do texto! se fosse um poema, era seu verso de ouro...

[às vezes eu queria mt me ver em perspectiva tb, mais para compreender o que sou hj e não ter tanta dúvida quanto ao que serei - alguém, enfim.]

bjos! x)

Anônimo disse...

MAdrinhaaaaaaa do meu coração.
valeuuu,adorei seu blog também.=D
ah , achei um máximo o "passeio socrático", agora eu vou ter uma boa resposta pra dar pros garotos da TACO hauAHuHAu
sobre os papeizinhos, os meus eu guardo todos em uma caixa de sapato ^^

Mariana Anselmo disse...

Óooun, Leti!
que saudades de quem eu fui.. de quem esteve comigo durante toodo tempo que eu fui! E eu junto tudo! nada de jogar fora! E quando estou na em casa (entenda-se Bahiiia!!), revejo tudo! Pq quem eu fui me acompanhará até o fim!

beiijos e até a UFES nossa de casa dia! rs

Unknown disse...

eu joguei fora uma parte e minha vida,considerei os escritos idiotas! Agora me considero idiota por tê-los jogado fora...ainda tenho aquele caderno do cefetes,tentei fazer outro mas não consegui...acho que estou mais feliz,menos estressada,menos revolucionária...daí nm sinto vontade de escrever

cara chorei de rir com o comentário do André...agora vou visitar a menina do casaco verde que não é a do cabelo lilás