domingo, 4 de novembro de 2007

Kaká e Gilberto

Nos dias 18 e 19 de outubro matei aula para participar do 7º Seminário de Meio Ambiente, realizado pela Arcelor Mittal lá naquela área verdinha da CST - Companhia Siderúrgica Tubarão. Creio que valeu a pena. Não só pelos sanduíches liberados (apesar de estar uma delícia), mas principalmente pela fala de dois sujeitos muito inteligentes.


No primeiro dia começamos com uma palestra do índio Tapuia, escritor, professor, terapeuta tradicional da linhagem dos pajés, fundador do Instituto Arapoty... Kaká Werá! Ele é um índio como outro qualquer, só recebeu uns ensinamentosinhos do Dalai Lama em pessoa, um convite pra ir ali à Índia fazer parte da criação do Conselho Mundial de Preservação das Tradições Ancestrais... Dá umas palestras também na Inglaterra, Escócia, México, França... Coisa pouca. O cara leva consigo os valores indígenas para passá-los pra frente e não deixar que morram de vez. Reconhecimento da Terra como mãe, reconhecimento da ligação entre a mãe e seus filhos (o que acontece com um acontece com o outro), amor como sendo a essência da natureza, expressão e riqueza da natureza dada através da diversidade e honra das relações. Óbvio que alguém na platéia perguntou: “você não acha esses valores muito românticos não?...” Mas é claro que são românticos! Agora me diz: e qual o problema nisso? O ser humano tem emoções, o ser humano tem sentimentos. Por que negamos isso? Por que esses valores são bonitinhos demais pra gente? Por que rimos deles? Às vezes não consigo entender. Se os tomássemos para nossa vida tudo seria bem diferente. Mas, afinal, são românticos demais para nós!... hahaha. Vamos continuar vivendo a vida da nossa maneira. Está tudo indo tão bem, estamos vivendo em tanta harmonia com o planeta! Que coisa idiota de índio, onde já se viu...

No segundo dia a palestra que valeu mais do que todos os sabores de sanduíches disponíveis (hummm) foi a de Gilberto Dimenstein. Agora lá vão as suas atuais atividades (segundo ele está vivendo uma fase super tranqüila de sua vida): Trabalha na ONG Cidade Escola Aprendiz (que ele mesmo criou), é membro da Comissão Executiva do Pacto da Criança (da Unicef), atua como colunista e membro do Conselho Editorial da Folha de S. Paulo, como comentarista da CBN – Central Brasileira de Notícias, como coordenador do site de jornalismo comunitário da Folha, escreve para a Folha Online às terças feiras, e algumas outras coisinhas mais. Super tranqüilo – prefiro não saber como foi sua fase agitada... O Gilberto acredita que o maior problema que o nosso país precisa resolver é o da Educação. Eu concordo bastante. Muita gente o xinga lá no site, mas as críticas fazem parte. Ele falou pra gente sobre um projeto incrível chamado Bairro Escola, que vem funcionando a 10 anos no bairro natal dele, Vila Madalena, em São Paulo. Trata-se de uma parceria entre instituições, empresas, espaços públicos, privados e unidades de ensino (particulares ou públicas também) existentes na comunidade para ressuscitar o ensino das escolas da rede municipal. Falando de uma vez só um dos saldos do projeto, depois desses 10 anos de aplicação hoje não existe mais um jovem analfabeto sequer na Vila Madalena (pelo menos é o que dizem os dados). Eles começaram pintando a frente da escola de um colorido louco com os alunos. Disse que os que mais se interessaram em ajudar foram os do fundão, aqueles que até eram considerados marginais mesmo. Depois foram reformando a escola por dentro, e o auditório que já tinha virado depósito de alguma porcaria qualquer voltou a ser um auditório. Na verdade mais que isso. Virou cinema e teatro ao mesmo tempo. Na verdade mais que isso! Na semana em que iam estrear o cinema, o Danny Glover (sim, o lendário negão de Máquina Mortífera) estava dando uma passadinha pelo Brasil e queria conhecer o projeto (ele é embaixador da Unicef, quando eu iria desconfiar!). Aí o Gilberto teve a idéia de chamar-lo pra ir lá ao colégio na hora do filme e, claro, pediu à diretora que exibissem “Máquina Mortífera”. Diz que a mulher falou: “Você endoidou de vez? Passar Máquina Mortífera pros alunos?!”. E ele: “Confia em mim... Passa esse.” No meio do filme tudo se apaga e os alunos enlouquecidos começam a gritar “caralho!” e “liga essa porra, seus filho da puta!”. Quando de repente os holofotes iluminam o amigo de Mel Gibson, enorme, saído diretamente do filme... Queixos caem. O meu caiu quando ele contou essa história. De arrepiar.



Eu acredito sim, Gilberto, que o maior problema que o nosso país precisa resolver é o da Educação, e que um monte de meninos sem perspectivas tiveram pela primeira vez vontade de freqüentar a escola a partir do sutil momento em que ajudaram a grafitar seu muro de entrada ou que viram o Danny Glover aparecer de surpresa no auditório que tempos atrás era só um depósito (tudo bem, já isso não foi tão sutil assim). Acredito que todos esses meninos podem ter um futuro bom e honesto. Tenho fé, prefiro ter, quero acreditar. Até nos do fundão da sala.

Acho que mais do que motivos ambientais a Arcelor tem motivos de “auto-limpeza de imagem” (não consegui achar a palavra certa) para promover esse seminário todos os anos - entre uma palestra e outra a gente escutava sobre suas ações para poluir menos o meio ambiente, como são esforçados e têm projetos, coisa e tal. Mas acho louvável mesmo assim, e fico extremamente agradecida pela oportunidade de ter escutado o índio e o jornalista. Como dizia Engels, “mais vale uma grama de ação do que uma tonelada de teoria”. Esses estão fazendo e inspirando os outros a fazerem também, e é isso o que mais vale a pena.

6 comentários:

Anônimo disse...

Atos transformando em teorias ou teorias transformando em atos....

É claro que eu não sou tão ocupado como Gilberto e nem tão compromissado como Kaká. Mas fico muito FELIZ quando chego da minha rotina de trabalho e gasto meu precioso tempo de descanço lendo matérias úteis como a sua.

Sim... É preciso ter amor por nosso Planeta Terra. E por vergonha desse amor, cada vez mais pessoas ajudam a destruí-lo. E agora nos deparamos como é teoricamente simples mudarmos este quadro... Basta perdermos a vergonha e adicionarmos AÇÃO!
Educação no Brasil??? Isso é uma piada?? Não!!! Pessoas como Gilberto nos mostra que ainda é possível acreditar! Transformemos a linda teoria em ação e colheremos os deliciosos frutos do futuro de nossos filhos, netos e, se não tivermos vergonha de amar, por que não até dos nossos bisnetos...

Mais uma vez você consegue se superar passando para nós leitores uma matéria digna de se ler.
Só demorou um pouco né??? rs
Mas tudo bem... =)

Abraços do seu 1º fã.

Darshany L. disse...

Uau!! Valeu TOTAL à pena esperar tanto tempo pela matéria do Gilberto *-* Lembro de você no telefone contando sobre o Danny Glover.. hahahahah
irado!!!!!
Amei a matéria.
A foca mais talentosa que já vi ;*

Anônimo disse...

Ei Lê!
força ai com o blog!!!
bjo!

Olá, sejam bem vindos! disse...

Nossa adorei esse blog, mt legal mesmo, essa materia est bastante produtiva.
Tenho um blog com um assunto relativo ao seu,DEIXE SUA MARCA NO MUNDO,lá postamos formas de fazer um mundo diferente,preservando o meio ambiente,fazendo boas açoes e falando de pessoas importantes q marcaram na historia.
Gostaria de saber se poderiamos nos tornar parceiros tipo: eu cito seu blog no meu blog e vc cita o meu, visita :www.deixesuamarca.blogspot.com

Diego Moretto disse...

Tinha um cartaz sobre esse evento lá no CEFET-ES... acabei nem indo por causa dessa parada da UFES....o pior q do saneamento acho q não conheço ninguem q foi....mas não to lá msm, hehehehe.

Bom, fiz a prova hoje. Acertei 31 (fora o enem). No ano passado tal pontuação me deixava bem em relação a classificação, mas agora vou esperar sair o resultado pra gastar grana com cursinho. Vou estudar on by my self, hehehehehe. Torça aí veterana.hehehehe. Bjão e muito obrigado mesmo pelo apoio. Bjooooo!

Lábia na -7 disse...

Muito bom!

Mas o que vale mais é o cachê que os honoráveis receberam da instaladora de auto-fornos.....