quarta-feira, 27 de junho de 2007

Como descobri que havia me tornado uma ambientalista


Oito horas da manhã. Acordo e enrolo pra levantar. Barulho de obra. Barulho infernal de obra. Levanto. Olho pela janela. A visão me arranca as primeiras palavras do dia. Palavras incomuns, devo dizer. E gritadas.

“CARAAAAALHO, MERMÃO!”

Minha mãe se assusta. Pergunta o que é que eu tenho. “Nada”, respondo. “Só dor de ambientalista”... Havia um monte de árvores enormes num terreno aqui em frente da janela. Tão altas. Tão verdes. Quando acordei, elas estavam todas no chão. Todas. Não sobrou nada. Nada. Com certeza vão construir algum prédio quadrado ali. Definitivamente não gosto de prédios quadrados. Morei neles a vida toda, mas não gosto. Não suporto mais os ver subindo, e eles não param de subir. Barulho de obra. Barulho infernal de obra. As raízes das árvores estão todas pra fora. Lá se vai um bocado de vida que levou tanto tempo pra ficar tão alta e tão verde. Fico vermelha, com o olho cheio d’água. Raiva. Muita raiva. Às vezes sem perceber algo muda dentro da gente. No geral nem pensamos no assunto, mas inevitavelmente está lá. Será que acabei me tornando uma ambientalista? Será?... Percebi que não tem essa palavra no dicionário. O que faz de alguém um ambientalista afinal? O que é preciso? Eu posso?...

“Existe uma imagem deturpada do que é ser ambientalista. Diferente do que pensam, o ambientalista não é só o ativista: aquele que nada com golfinhos, faz parte de uma ONG, se coloca à frente da serra elétrica na Amazônia. Ser ambientalista no cenário atual é praticar pequenos e significativos gestos, mudar hábitos de consumo. Parece clichê, mas não é. Ambientalista é aquele que não joga lixo na rua, que recicla seu lixo doméstico, economiza água, consome energia de forma consciente e apóia as empresas que são ecologicamente responsáveis, preferindo suas marcas na hora da compra. Enfim, para ser ambientalista, não é necessário ser um especialista em natureza. Os maiores desafios ambientais estão nos grandes centros urbanos e, portanto, nas mãos das pessoas comuns.”

Tá. Ricardo Trípoli explica sob seu ponto de vista. Ele é deputado federal (PSDB-SP), ambientalista, advogado e vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados (êita).

Ambientalista. Vou gostar disso (e vou tentar xingar menos).

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Preás 1 x 0 Petrobrás

“Preás atrasam obras da sede da Petrobrás”. Eis a chamada na primeira página da A Gazeta de sábado (16 de junho de 2007) que me atraiu a atenção. A entidade terá sua nova sede em um terreno na Reta da Penha, onde hoje há uma mata. A planta é linda, os prédios são moderníssimos, e além do mais abrigarão 1.500 funcionários que hoje trabalham em vários locais diferentes da Capital, Vitória. Mas nada nesse mundo consegue tirar a mata e os preás da minha cabeça. Os bichinhos são animais silvestres cujo maior pecado foi viver justamente na mata onde a Petrobrás está afim de construir seus lindos prédios. Isso se chama progresso. São acusados de atrasar as obras porque não tem ninguém disponível para tirá-los do local. O IBAMA está em greve há mais de um mês e a Polícia Ambiental se recusa a fazer um trabalho que diz não ser dela.

O caso me fez lembrar de um comentário que fiz esses dias com um amigo. Estávamos caminhando na praia e passando na frente de uma espécie de acampamento para jovens adventistas (tudo bem que isso não importa). No portão de entrada do terreno murado uma placa dizia em letras garrafais: “PROIBIDA A ENTRADA DE ANIMAIS”. Olhei toda a natureza em volta e os bizarros muros e portões construídos pelas mãos do homem. Acabei comentando em voz alta algo como: “Que prepotência a nossa, né? A gente vem, corta as árvores, destrói a grama, expulsa todos os seres que antes de nós viviam ali, constrói nossas bizarrices e depois ainda por cima os proíbe de entrarem no lugar. Quem a gente pensa que é pra nos acharmos mais donos disso aqui do que eles? Proibida a entrada de animais, ham...”.

O problema é que o ser humano se acha o dono do mundo. Se acha o bicho mais importante dentre tantos, dentre todos. Acha os seus assuntos mais relevantes e urgentes. De que importa a moradia dos preás? Estamos falando da magnífica sede da Petrobrás no Estado! Oh! Isso é coisa séria! Isso é coisa verdadeiramente importante. Preás?! Você só pode estar zoando com a minha cara...

A reportagem também contava com aquele quadrinho “Nossa Opinião”, onde a A Gazeta falava indignada sobre o prejuízo que a Petrobrás está tendo com o tal atraso das obras, sobre a briga entre órgãos e empresas públicas e sobre a falta de prioridade com o que é de interesse da sociedade. Interesse da sociedade... Muita gente vai me achar idiota por eu estar aparentemente desconsiderando fatores como capital, empregos e sustento de famílias, mas pra mim é claro como o dia que o mundo só terá jeito quando revermos profundamente quais são os nossos interesses. De preá em preá e de mato em mato é que o aquecimento global enche o papo.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Você não sabe o quanto eu caminhei...


Passos de Anchieta 2007. 10ª edição. 4 dias. 100km muito bem distribuídos. Sol. Terra. Areia fofa. Sol. A partir de hoje sou fã do Padre José de Anchieta. O cara andou, e muito. No 4° dia acordei com um alívio imenso de saber que estava acabando, mas bastaram 10 minutos pra bater uma tristeza imensa de saber que no dia seguinte não teria mais. Não teria mais que acordar antes do sol nascer, nem que preparar mistos pra viagem, nem enrolar os dedos dos pés com esparadrapo, nem fazer alongamento, nem me cobrir de protetor, nem andar, nem a expectativa de chegar a algum lugar, nem andar. Foram só 4 dias, mas a impressão que fica é de que passamos uma semana peregrinando! O litoral é lindo, a natureza é linda, as companhias se mostram verdadeiros companheiros, o povo é acolhedor. O meu joelho ainda não voltou a ser o que era antes, mas eu amo o Espírito Santo mais do que nunca. Dizem que 60% dos andarilhos são de fora. Passei por um casalzinho que conversava em inglês! Passamos também por uma mulher que perguntou o que significava aquele pano azul, branco e rosa escrito TRABALHA E CONFIA. Sempre que temia ir ao chão de exaustão me deparava com sujeitos de 80 anos caminhando à minha frente sem reclamar. Acho que nenhuma distância me vai ser longa demais depois dos Passos. Engarrafamento da Reta da Penha à Fernando Ferrari? Só preciso chegar ao outro lado da 3ª Ponte, depois tudo se resolve! Pelo menos quando me recuperar dessa.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Inconveniente?


Esses dias me peguei meio enjoada desses assuntos de meio ambiente. Sim, meio enjoada. Fiquei tão empolgada com a questão do aquecimento global, mas tão impressionada, que saí lendo e assistindo tudo que achava a respeito. Tive uma verdadeira overdose de crise climática, de catástrofe. Saí tentando convencer as pessoas da gravidade do caso assim como eu havia sido convencida. Saí tentando alertá-las, e para isso praticamente distribuí tapas na cara dos meus eventuais leitores. “Acorda, meu irmão!”. Sim, eu queria que todos acordassem a ponto de fazerem alguma coisa. Fiquei com sede de mudar, mudar tudo. Repensar todo o meu modo de agir e viver. Passar por cima da minha mania de higiene perfeccionista e cronometrar o meu banho. Passar por cima da preguiça mortal e lavar todo saco plástico ou caixa de leite que esvaziava e quase ia pro lixo comum ao invés de pro lixo seco, reciclável. Eu queria mudança. Eu quero mudança.

Não podemos nos dar ao luxo de simplesmente enjoar do assunto. Vamos falar de meio ambiente sim! Hoje é o Dia Mundial do Meio Ambiente! Essa é a Semana do Meio Ambiente! Você já escutou isso mais de 10 vezes? Pois eu também. Já se fartou de saber que o vidro demora por volta de 1 milhão de anos pra se decompor e voltar à natureza? Já não agüenta mais que lhe repitam que devemos plantar muitas árvores e andar mais de bicicleta do que de carro? Pois agüente mais um pouco! Vamos repetir, repetir e repetir até que todo mundo não só ouça mas também tome a sua atitude. Nunca quis esbofetear você, querido leitor. Eu gosto de você. Só tenho vontade às vezes de te dar uma sacudidinha, quem sabe... Se nós não fizermos nada, quem fará? Vamos deixar a responsabilidade nas costas dos outros? E que outros? O governo? A galera daquela ONG famosa? Pois quem tem que agir é ninguém menos que eu e você. Ninguém menos que cada cabeça que faz parte desse mundo. Sem você não vai dar certo, acredite.

Não dá mais para usar a preguiça e a falta de tempo como desculpas. Não existem mais desculpas. Sinto aqui em mim que essa é uma causa pela qual vale a pena viver. Pela qual vale a pena morrer. É uma sensação boa essa de que você pode fazer a diferença! Quem diria, meros mortais como nós!... Eu sei que não é absolutamente nada original, mas aí vai (de novo e de novo): se cada um fizer a sua parte podemos salvar o mundo!

Não enjoe do assunto.