terça-feira, 17 de julho de 2007

Viagem

Este é um post diferente dos outros. Bom, nem tanto. Diferente por estar sendo escrito em circunstâncias totalmente novas de todas as circunstâncias de antes. Estou no ônibus a caminho de casa. Não neste exato momento em que você lê – vou ter que passar isso a limpo no computador mais tarde. Mas para esse meu eu nesse exato momento estou aqui. Como é curiosa a dimensão tempo!... Não é um “a caminho de casa” qualquer, é uma bela de uma viagem. Talvez eu esteja desperdiçando precioso tempo de cochilos e paisagens ao me ocupar dessa folha de papel. Talvez eu fique enjoada e vomite logo mais à frente. Mamãe sempre falou para nunca ler em viagens, mas ela não está aqui. Comecei a escrever justamente por causa da paisagem e, cá entre nós, porque me lembrei que hoje é terça-feira. Ai Jesus, sempre tenho medo das idéias se esgotarem e eu não ter nada pra falar na semana seguinte! Medo besta. Espero que não aconteça, afinal, só o fato de vivermos já nos dá algumas histórias pra contar – não que elas sejam necessariamente interessantes.

Tá. O que me chamou a atenção do lado de fora da janela foi a cor dos montes. “Montes”, soa poético. Falo daquelas colinas que você vê pela estrada com boizinhos pastando e tal. O fato onde quero chegar é que os montinhos verdes estão marrons. Marrons. Cor de palha seca, de grama tostada no sol. Em toda parte o mato parece crocante. Não estou imaginando, e nem acho que esteja dramatizando mais do que devia. Sinto que tem algo errado lá fora, algo muito errado. A gente está no inverno, né? Alguém sabe me dizer se isso significa alguma coisa? Era pra ser assim mesmo? No inverno talvez a natureza deva estar se recuperando do outono... Ou isso é na primavera? Acabo de passar por um morro digno do sertão nordestino, com direito a árvore retorcida e tudo (pelo menos essa é a imagem do sertão cravada na nossa cabeça).

Sabe qual o nosso problema? A gente nunca acha que vai chegar até nós. A sede, a seca do Nordeste, a fome da África, os 50 graus escaldantes que fizeram na Índia levando dessa pra melhor uma penca de gente. Achamos que nunca vai acontecer comigo ou com você ou com o vizinho de um de nós dois. Sim, aqui demora um pouco mais para sentirmos as conseqüências na pele. Um pouco mais. Enquanto só vemos pela TV não tem tanta importância, não faz lá muita diferença. Aí de repente um morro que era verde fica marrom debaixo do nosso nariz. Depois vários deles. Não nos preocupamos muito nem desperdiçamos atenção com coisa tão trivial. Pelo menos não até que um boi nosso morra.

Se quer saber tenho pena das crianças. Elas não têm culpa, e vai sobrar pra elas. “Vocês são o amanhã”, “o futuro está em suas mãos”... Quanta responsabilidade. Os guris acordam todos os dias escutando que o mundo vai acabar. Depois vão para a escola e lá estão os professores pra dizer que temos que fazer isso e aquilo senão, adivinha? O mundo vai acabar.

Mas é injusto dizer que é só isso que estou vendo na viagem. Não. Isso é o que mais me marca, isso é o que me dói. Estranho uma viagem doer. A moça da poltrona ao lado estava em um sono tão tranqüilo momentos atrás... Agora apenas escuta música enquanto olha pela janela. Nunca saberei o que está pensando. Eu aqui fazendo teorias sobre grama, crianças e fim do mundo. Uma coisa incrível que vi também momentos atrás foi um rio. Um rio lindo, longo, que não acabava! Um rio que nunca havia visto, mesmo tendo feito esse mesmo percurso milhares e milhares de vezes! Talvez porque ele sempre esteve além do mato e nunca deu para enxergar da altura do carro. Mas talvez eu jamais o tenha percebido na minha distração e falta de interesse. Deixamos várias coisas incríveis passarem despercebidas o tempo todo. Agora mesmo a moça da poltrona ao lado me deu biscoito passatempo e ensaiou uma conversa, até descobri o que ela pensava: vontade de chegar logo!... E eu aqui tão entretida em escrever que ela achou melhor voltar a dormir para não me atrapalhar.

Conclusão: Devia dar mais ouvidos à minha mãe. Êita vontade de vomitar...

post-scriptum: Antes do fim da viagem eu e a moça nos tornamos amigas de infância.

10 comentários:

Anônimo disse...

(Paciência para ler!!)
Lelê!
Sinto lhe informar, mas sua mãe, com certeza, teria razão:
ler em carro dá vontade de vomitar. Contudo ela nada mencionou sobre escrever. Se não fosse esse desespero e a curiosidade que nos rondam eternamente talvez você não teria lido o que você escreveu e não teria ânsia de vômito.
Bem feito!
Bom, as crianças sempre se ferram mesmo. Lembra que nossos pais saiam pelos bairros à pé. A gente brincou na rua. Hoje, elas não saem da frente do computador dentro de casa (se bem que tem uns pais e uns jovens, que... benza Deus!!)
Mas fico feliz pela nova velha amizade. É pra isso que estamos aqui!! Fico também feliz por vc ter estudado com a Lu, se não fosse isso, eu talvez não estivesse em empolgando tanto aqui!
Parabéns!
Beijão pra vc e pro seu muso inspirador!
Thais!! (irmã da Lu)
PS: eu falei que eu vinha, hheheheheeh

Anônimo disse...

http://viagemdaspalavras.weblogger.terra.com.br
Aí, esse daí são alguns textinhos q eu faço. não são tão bons quanto os seus, mas... vá lá.
hehehehehe
Beijão!
Thais

Anônimo disse...

LeH,adorei o texto...mesmo,mesmo!!
Eu tenho menia de ficar observando a paisangem qd estou no ônibus,há vezes que acho até chato qd alguém puxa assunto.
QD morava em Vila Velha observava as camomilas...no inverno elas se queimavam por completo!iam secando e ficava um talo marrom,chegava ao ponto de até o talo sumir!Na primavera ficavam lindas...num verde bandeira e florzinhas amarelas!isso acontece com o ipê tb...acho q o marrom do morro é isso(o inverno).
bjus

Diego Moretto disse...

Caramba, isto tudo saiu de em uma viagem???? Haja criatividade, ficou ótimo!!!

Realmente, as mudanças estão à nossos olhose ainda nem começamos a tentar remediar oq nós (humanos) fizemos. Tenho dó de meu filho, e de meu neto...

Bom, mais um desafio pra ti... hehehe, da uma passada lá no blog mais tarde...bjão!!!

Diego Moretto disse...

Te indiquei para outra "brincadeira" de blogueiros...passa lá mais tarde. Bjus!!!

J. disse...

viajar me dá vontade de escrever tb. E melancolia...

Mas vc tem razào... É sério, tão sério e a gente deixa as paisagens e as atitudes para depois. Isso dá medo.

Belo texto!

Aqualye disse...

leticia!! =D

vc joga card game de senhor dos anéis???

vai ter campeonato na Serra, perto da minha casa!!

=**

*não, não desista do fotolog! eu amo ver fotos! =(*

Lábia na -7 disse...

é por isso que eu me amarro naquela propaganda do GREENPEACE; "Lembra que sua geração queria mudar o mundo? Pois é, ela conseguiu."

A culpa é sempre do anterior, culpa de ferrar o mundo e de nos criar como babacas.

Solução: Matar todos os velhos e esperar o Grande Deus Macarrão com Almôndegas resolver tudo.

Anônimo disse...

Coitadas das crianças :/

só nos resta educar nossas crianças...
pra que elas não fiquem como a gente.

J.Estel Santiago disse...

uau!
não sabia desse teu lado de blogueira!
mas adorei conhecê-lo!
parabéns!!!
esse texto tá master!